A Cena Encantadora, por Padre Julio Maria de Lombaerde
Reconstituamos agora a cena total das Bodas para recolher as profundas lições que dela emanam. É uma cena de núpcias com todo o encanto da simplicidade antiga. É provável que os nubentes fossem parentes de Maria Santíssima ou de São José, e por esta razão foram convidados Jesus e Maria. Era no começo de sua vida pública e Jesus tinha escolhido apenas uns cinco ou seis discípulos, e assistiu, com eles ao pequeno festim, junto com sua Mãe. De repente, vem a faltar o vinho, o que prova que os nubentes pertenciam à classe pobre. Maria Santíssima percebe o embaraço dos nubentes e quer logo poupar-lhes, como aos convidados, um desgosto ou uma contrariedade.
Vê-se nesta solicitude de Maria Santíssima toda a bondade do seu coração. Ela é mulher, é mãe, conhece por experiência estes imprevistos da vida doméstica. Ela não duvida que o faça a seu pedido. Acostumada aos seus obséquios de criança, à sua suave submissão, às suas divinas atenções, ela sabe que é bastante dizer uma palavra para ser atendida. Até hoje Jesus não fizera nenhum milagre exterior que o manifestasse ao mundo; havia, pois, razão de hesitar da parte de Maria Santíssima, sabendo que tal hora estava marcada pela vontade do Pai Celeste. Mas, havia ali uma boa obra a fazer, havia um auxílio a prestar a estes recém-casados; que mereciam, pela sua piedade, este ato de caridosa intervenção.
A Virgem Santa, com este olhar de dona de casa, que penetra nos acontecimentos; e este outro olhar de esposa carinhosa, que advinha a necessidade; compreendeu o embaraço dos casados, e ela não hesitou. Levantou-se de seu lugar e aproximando-se de Jesus, ela inclina-se a seu ouvido e lhe diz:
“Vinun non habent. Eles não tem mais vinho. (Jo 2, 3)”
Nada mais! E para que dizer mais? Esta prece respeitosa, como velada na sombra de uma narração é o bastante. Maria Santíssima não mostra nem precipitação, nem inquietação. Ela expõe o fato com a plena certeza de ser atendida. Jesus escutou e, virando levemente a cabeça do lado de sua Mãe, com um suave sorriso ele responde:
“Deixe estar, Senhora, cuidarei disso, embora não tenha ainda chegado a minha hora. Quid mihi et tibi, mulier!”
Maria Santíssima retribui a resposta graciosa e o sorriso do Filho e dirigindo-se diretamente para os serviçais da mesa, ela lhes diz: Sei que não há mais vinho, mas o meu Filho vai providenciar, fazei tudo que ele vos disser, e Maria Santíssima retoma o seu lugar, junto às outras senhoras convidadas. Ninguém notara o pequeno incidente.
Em seguida, Jesus levanta-se e dirige-se para o lugar das abluções, onde havia umas urnas de água; ordena aos serviçais que as encham, e muda a água em vinho. O milagre está feito! É o primeiro dos milagres de Jesus, feito a pedido de sua Santa Mãe. Este milagre manifestou a sua glória e a do Filho de Deus, e os discípulos creram nele.
Tal é a bela, a tocante, a significativa cena das Bodas de Caná. Tudo ali é suave, é divino, e mostra-nos em sua radiante união: o Filho e a Mãe, Jesus e Maria. A bondade do coração de Maria, sua compadecida vigilância e solicitude, o seu crédito perto de Jesus, e de outro lado o amor de Jesus para sua Mãe, e a pronta deferência que lhe manifesta, fazendo a seu pedido o primeiro milagre, embora não tivesse chegado ainda a hora de manifestar-se publicamente.
O quadro de Caná deve alargar-se. As gerações dos filhos de Deus virão reconhecer e aprender nos pormenores minuciosamente conservados deste festim o papel de introdutora, de iniciadora, de medianeira, da Virgem Santíssima perto de seu divino Filho. Jesus sabia que havia falta de vinho nas Bodas de Caná. O seu olhar penetra o futuro e conhece tudo, porém, Ele quer ser implorado. É o direito de sua Onipotência. É também o dever da nossa inferioridade. Ele espera que brote uma prece de nosso coração e que esta prece lhe seja apresentada por sua Mãe Santíssima. Basta a Virgem Santa dizer-lhe: Vinum non habent.
Esta alma não tem força, não tem alegria, não tem piedade, não tem perseverança, e logo Jesus responde: Quid mihi et tibi, mulier.
Deixe estar, minha Mãe, eu providenciarei a isso!
E o milagre da misericórdia divina será efetuado em nosso favor. Deus não muda... e tendo feito este primeiro milagre pela intercessão de sua Santíssima Mãe, é uma espécie de lei, que todos os outros milagres sejam obtidos pela mesma intercessora.
TRECHO DO LIVRO:
A MULHER BENDITA DIANTE DOS ATAQUES PROTESTANTES - RESPOSTAS IRREFUTÁVEIS ÀS OBJEÇÕES PROTESTANTES CONTRA O CULTO DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA.
PADRE JULIO MARIA DE LOMBAERDE
ANO: 1936
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