Presença de Jesus Cristo no Meio de Nós no seu Tabernáculo: Ela é de Todos os Lugares e de Todos os Tempos, por Padre Pierre Chaignon
Quando Salomão, cercado pela multidão do povo de Israel, dedicou à glória de Deus o magnífico templo que havia construído, a pompa das cerimônias e a majestade do Senhor; que se fez sensível, infundiram na assembleia um sentimento religioso tão profundo que ela se prostrou em terra e do coração do monarca soltou-se este grito de admiração:
“Será crível que Deus se digne tomar morada sobre a terra no meio dos homens! Se o céu e todos os céus não podem conter a sua imensidade, como a comportará este edifício que é obra das minhas mãos? (2Cr 6, 18)”
Em toda a parte onde estiver o corpo reunir-se-ão as águias em torno dele (Mt 24, 28). O corpo por excelência, o mais nobre e perfeito de todos os corpos, o corpo sagrado de Jesus Cristo, que tão grande parte tivera na obra da nossa Redenção, sabemos onde está. Adoramo-lo sentado à direita do Pai, mas também o adoramos nos nossos tabernáculos. Ah! Onde estão as almas que elevando-se acima da natureza e dos sentidos com um olhar de águia apercebem Jesus através dos véus do Sacramento? Quanto são raros os cristãos que, como Moisés, veem, para assim dizer, o invisível (Hb 11, 27). E apreciam, como devem, a presença do Deus Eucarístico! Se o Verbo Encarnado nos dissesse que compraz no meio dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, que compõem a sua corte celeste, concebê-lo-ia facilmente, porque ali ao menos Ele é conhecido e servido como deve sê-lo; mas que Ele se digne assegurar-nos que as suas delícias são de estar com os filhos dos homens, não será motivo para nos causar o maior assombro? Não se diria que o seu amor o cega ao ponto de lhe fazer esquecer o que Ele deve à sua infinita grandeza? João Batista, nas margens do Jordão, conturbado no seu espírito, dizia aos judeus que o tomavam pelo Messias:
“Há no meio de vós alguém que vós não conheceis. Se soubésseis o que ele é o que merece esquecer-me-íeis para não pensar senão nele. (Jo 1, 26)”
Deve convir-se todavia que o Santo Precursor não tinha motivo de espantar-se muito vendo o Messias sem consideração nem honras no meio do seu povo, porque Ele acabava apenas de deixar a obscura oficina de Nazaré; mas quanto mais espantoso e aflitivo é que o Divino Salvador seja quase desconhecido de nós depois de tudo o que fez para nosso proveito durante a sua vida, na sua morte e depois na sua triunfante Ressurreição!
A sua presença no meio dos homens não é privilégio de uma nação ou de uma localidade qualquer. Ela pertence a todas as nações e a todos os lugares, onde houver um presbítero católico e um altar. Se Jesus não tivesse senão um templo em todo o universo, qual seria o cristão que não ambicionasse a felicidade do poder, ao menos uma vez na sua vida, ir depor aos seus pés as suas homenagens e orações! Mas na sua excessiva bondade não quis que houvesse na sua inumerável família uma só aflição que não fosse fácil depositar no seu coração, e foi por isso que Ele multiplicou os seus santuários até ao infinito.
Um dia dizia Ele aos seus discípulos:
“Felizes os olhos que veem o que vós vedes, e os ouvidos que escutam o que vós escutais. (Mt 13, 16)”
Nós temos muitas vezes invejado essa felicidade embora a nossa, considerando-a debaixo de todos os aspectos, lhe seja realmente preferível, porque nós temos sobre os seus contemporâneos a vantagem que Ele não estava presente senão em um único lugar ao mesmo tempo; Nazaré perdia-O quando Ele ia a Jerusalém. Quantas lágrimas teria Ele poupado às irmãs de Lázaro, se Ele tivesse estado em Betânia, quando a morte veio roubar-lhes um irmão que Ele se dignou restituir-lhes, ressuscitando-o! Quanto a vós, almas fiéis, que Ele prova porque vos ama assim como a essas duas irmãs, não tendes a lamentar-vos da sua ausência; Ele está sempre aí junto de vós na sua humilde morada, ressentindo todos os vossos males e convidando-vos a virdes procurar o remédio ao pé d’Ele. Mas porque esta consideração vos não infunde mais firmeza na vossa esperança e não desterra os vossos sustos?
TRECHO DO LIVRO:
A PAZ DA ALMA - FRUTO DA DEVOÇÃO À EUCARISTIA E DO ABANDONO À PROVIDÊNCIA.
PADRE PIERRE CHAIGNON
ANO:1882.
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