Método Capaz de forçar a Deus nos Ouvir mesmo Quando Pedimos Felicidade Temporal, por São Cláudio de la Colombiére



Quereis que vos dê um bom método para pedirdes a felicidade, mesmo temporal, método capaz de forçar Deus a vos ouvir? Dizei-lhe de todo vosso coração: Meu Deus, ou dai-me tantas riquezas que meu coração fique satisfeito, ou inspirai-me desprezo delas tamanho, que eu não as deseje mais; ou livrai-me da pobreza, ou me tornai-a tão amável que eu a prefira a todos os tesouros da terra; ou fazei cessar essas dores, ou, o que vos seria ainda mais glorioso, fazei que elas se convertam em delícias para mim, e que, longe de me afligirem e de perturbarem a paz de minha alma, se tornem para ela a fonte da alegria mais doce. Podeis-me descarregar da cruz, podeis-me deixar sem que eu lhe sinta o peso. Podeis apagar o fogo que me queima; e podeis, sem apagá-lo, fazer que, ao invés de queimar, me sirva ele de refrigério, como serviu aos jovens hebreus na fornalha de Babilônia. Peço-vos uma coisa ou outra. Que importa de que modo eu seja feliz! Se for pela posse dos bens terrestres, render-vos-ei por isso imortais ações de graças; se o for pela privação desses bens, será um prodígio que dará ainda mais glória ao vosso nome, e não serei por isso senão mais grato.

Eis uma oração digna de ser oferecida a Deus por um verdadeiro cristão. Quando orardes desse modo, sabeis qual será o efeito dos vossos desejos? Primeiramente, ficareis contentes aconteça o que acontecer; e que outra coisa desejam os que são mais famintos dos bens temporais senão estarem contentes? Em segundo lugar, não só alcançareis infalivelmente uma das duas coisas que houverdes pedido, mas, ordinariamente, as alcançareis ambas. Deus vos concederá o gozo das riquezas, e, para que as possuais sem apego e sem perigo, vos inspirará ao mesmo tempo um salutar desgosto delas. Porá fim às vossas dores, e, demais, vos deixará uma sede ardente delas, que vos dará todo o mérito da paciência, sem que sofrais. Numa palavra, vos fará felizes desde esta vida, e, com receio de que a vossa felicidade não vos corrompa, vos fará conhecer e sentir a vaidade dela. Pode-se desejar nada mais vantajoso? Nada, sem dúvida. Porém, como uma vantagem tão preciosa é bem digna de ser pedida, lembrai-vos de que ela merece ainda ser pedida com instância; pois a razão por que a gente obtém tão pouco, não é só porque pede pouco, é ainda porque, quer peça pouco, quer peça muito, não o pede bastante.

Quereis que todas as vossas orações sejam infalivelmente eficazes? Quereis forçar a Deus a satisfazer todos os vossos desejos? Digo primeiro que cumpre se cansar de pedir. Os que se relaxam depois de ter rezado algum tempo, têm falta ou de humildade ou de confiança; e assim não merecem ser atendidos. Ne petas a Deo imperiose, diz um antigo padre, quod statim velis impetrare: parece pretendais que se obedeça imediatamente à vossa oração, como se fora um mandamento; não sabeis que Deus resiste aos soberbos, e que só tem complacência para com os humildes? Qual! O vosso orgulho não poderia sofrer que vos façam tornar mais de uma vez a mesma coisa? Digo em segundo lugar que é ter bem pouca confiança na bondade de Deus o desesperar dela tão cedo, tomar as menores delongas como recusas absolutas.

Escutai, almas cristãs, um sentimento que eu quisera poder gravar-vos nos corações. Quando se há verdadeiramente concebido até onde se estende a bondade de Deus, a gente nunca se crê repudiado, não poderia crer que Ele nos queira tirar toda a esperança. Eu de mim confesso que, quanto mais vejo Deus me fazer pedir a mesma graça, tanto mais sinto crescer em mim a esperança de obtê-la. Nunca creio que minha oração é rejeitada senão quando percebo que cessei de orar; quando, ao cabo de um ano de oração, acho em mim tanto fervor em pedir quanto tinha ao começar, não duvido mais da realização dos meus desejos; e bem longe de perder ânimo após tantas delongas, creio ter lugar de me regozijar, porque estou persuadido de que serei tanto mais plenamente satisfeito quanto mais tempo me tiverem deixado rezar. Se as minhas primeiras instâncias tivessem sido inteiramente inúteis, eu não teria com tanta frequência reiterado os mesmos rogos, a minha esperança não se teria sustentado; já que se sofre a minha assiduidade, é uma razão para mim de crer que serei pago liberalmente.

De feito, senhores, a conversão de Agostinho só foi concedida à Santa Mônica ao cabo de dezesseis anos de lágrimas; mas também foi uma conversão inteira, uma conversão incomparavelmente mais perfeita do que ela a havia pedido. Todos os seus desejos terminavam em ver a incontinência daquele moço reduzida aos limites do casamento, e ela teve o prazer de vê-lo abraçar os conselhos mais relevados da castidade evangélica. Desejara apenas que ele fosse batizado, que fosse cristão, e o viu elevado ao sacerdócio, à dignidade de bispo. Finalmente, só pedia a Deus vê-lo sair da heresia, e Deus o fez coluna da sua Igreja e o flagelo dos hereges do seu tempo. Se, após um ou dois anos de preces, aquela piedosa mulher se tivesse sucumbido; e, se após dez ou doze anos, vendo que o mal crescia todos os dias, que aquele desventurado filho se envolvia ainda em novos erros, em novas libertinagens, que à impureza ajuntara a avareza e a ambição; se então ela tivesse abandonado tudo por desespero, qual não teria sido a sua ilusão! 

Que mal não teria feito ao filho! De que consolação não teria privado a si própria! De que tesouro não teria privado quer o seu século, quer todos os séculos porvindouros!

TRECHO DO LIVRO:

REFLEXÕES CRISTÃS: EXCERTOS.
SÃO CLÁUDIO DE LA COLOMBIÉRE.
ANO: 1684.

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