Como Assistir Santamente à Missa, por Padre Pierre Chaignon



I. A excelência deste método.

Uma alma fervorosa, que servia a Deus com toda a simplicidade do seu coração, informava-se um dia sobre o que devia fazer para bem ouvir a missa. Lhe perguntaram:

“Que fazeis vós?

Encho-me de recolhimento da presença do tabernáculo; mas quando vejo a imagem da cruz na casula do sacerdote, que se encaminha para o altar, creio ver a Jesus Cristo indo para a morte para salvar-me. Enterneço-me, choro, e não posso pensar em outra coisa senão nos seus sofrimentos e no seu amor por mim. Observai este método: ele é preferível a todos os outros, porque é fundado sobre a natureza do sacrifício e entra perfeitamente nos desejos do Salvador e nas intenções da Igreja. A missa é a paixão, próxima de nós e representada aos nossos olhos; é o culto especial que rendemos aos sofrimentos e à morte de Jesus Cristo, por ordem d’Ele mesmo; da parte dos fiéis é a repetição solene e prolongada do grande brado de reconhecimento que se soltava do coração de São Paulo: “Ele me amou e entregou-se por amor de mim. (Gl 2, 20)””

Quando o nosso Divino Redentor nos não tivesse deixado senão uma representação da sua imolação sangrenta, deveríamos prestar-lhe todo o afeto que merece a recordação mais interessante; quanto mais nos não deve impressionar este sinal vivo, esse memorial sagrado? Sabemos quanto Jesus deseja ver-nos ocupados acerca dos seus sofrimentos e morte e foi para isso que ele instituiu a missa: fazei isto em minha memória: lembrai-vos do que eu fiz e sofrer por vós e não me recusareis o coração. E se nós podemos esquecer tão grande benefício ao menos não seja quando nos encontramos perante o altar. A Igreja, durante a celebração dos santos mistérios, emprega todos os meios para fixar toda a nossa atenção sobre o espetáculo comovente de um Deus morrendo por nós; ela quer que os nossos olhos encontrem em toda a parte a cruz: no altar, nos ornamentos, nas cerimônias. Antes de autorizar o sacrificador para o cumprimento do seu ministério conduze-lo a um lugar já santo que é como vestíbulo da casa de Deus. Aí ela o transfigura, por assim dizer, à semelhança do seu Divino Esposo, conturbado pela dor e cheio de opróbrios. No amito que lhe põe sobre a cabeça reconhece o véu ignominioso que foi lançado sobre a cara de Jesus; e manípulo e a estola relembram as algemas com que o carregaram; o cordão representa as varas com que dilaceraram o seu corpo; a alva é o vestido branco com que Ele foi entregue à irrisão de um tribunal ímpio e de um povo iludido.

Todo o cerimonial do sacrifício tende para o mesmo fim. Representar a paixão do Salvador, inspirar-se na sua lembrança, compenetrar-se vivamente dela é entrar no espírito da Igreja quando se assiste à missa.

***

II. Prática deste método.

Consistia ela em meditar sobre as diferentes circunstâncias da paixão à medida que a memória é suscitada nas diversas partes do sacrifício.

O sacerdote ao pé do altar é Jesus Cristo no Jardim das Oliveiras. Considerai o Homem-Deus prostrado diante de seu Pai, a cujos olhos Ele aparece onerado com todos os pecados do mundo; Ele chora-os, suporta-lhes a vergonha, experimenta a dor como se fora Ele mesmo que os houvesse cometido. Ele parece a ponto de recuar de dor à vista deste horrível cálice e, todavia aceita-o; bebê-lo-á até as escórias, visto que os nossos interesses o exigem. Eis aqui o sacerdote; apenas chega ao pé do altar perturba-se como Jesus à entrada do jardim. Precisa confortar a sua alma imersa na tristeza:

Quare tristis es, anima mea, et quase conturbas me? Por que te deprimes, minha alma, por que te conturbas dentro de mim? (Sl 41 (42), 5)”

Considera-se como um penitente público; geme, bate no peito, ora em nome de todos os culpados, cujo é mediador. Este espetáculo e lembrança não me impressionarão também? Permanecerei testemunha impassível da agonia do Salvador? O suor de sangue que percorre todos os seus membros deixar-me-á em fria insensibilidade? Não terei uma lágrima que derrame sobre os sofrimentos do meu Deus, sobre as iniquidades do mundo e as minhas próprias?

Quando o celebrante transpõe os degraus do altar, e que entra no exercício do seu tremendo ministério, passa sucessivamente aos dois lados do altar, e representa o Salvador depois de entregar-se a seus inimigos, sendo conduzido como malfeitor a Jerusalém, cheio de opróbio, arrastado de tribunal em tribunal, e recebendo em toda a parte novas afrontas em troca de seus inefáveis benefícios. Compadecemo-nos pelos ultrajes, que o vexam; sigamo-l’O com espírito o não o abandonaremos. Ao evangelho podemos ouvir as testemunhas falsas que o acusam e incriminam, censurando-Lhe ora a doutrina, ora as obras, que foram todas conducentes ao bem. Os homens são assim: quem poderá confiar em seu reconhecimento, ou ligar importância à sua estima?

No momento em que o sacerdote descobre o cálice para o ofertório, considera-se Jesus despojado dos seus vestidos. Ele oferece seus membros sagrados ao tormento da flagelação, a sua cabeça ao coroamento insultante e cruel, tendo já exposto seu rosto divino aos escarros e bofetões. Admirai a sua invencível paciência; e vós nada quereis sofrer por Aquele que tanto padeceu por vós? Sereis sempre um membro delicado sob um chefe coroado de espinhos?

Ao lavabo pensai no covarde pretor, que condena a inocência reconhecida e procura, lavando as mãos, purificar-se do atentado horroroso. Lamentai a cegueira do povo que aceita a responsabilidade:

“Recaia sobre nós e sobre nossos filhos todo o seu sangue! (Mt 27, 25)”

Serás escutando, povo ingrato, e até ao fim dos tempos as gerações aterradas reconhecerão em tuas desgraças o sinal evidente de uma maldição, provocada por teus crimes. Elas serão compelidas a confessar que não se insulta impunemente o Todo Poderoso, desafiando-O sacrilegamente (Gl 6, 7).

Deu-se a sentença de morte; e tudo se prepara para a execução. O sacerdote estende as mãos sobre a oferenda material deposta sobre o altar. Ele depõe sobre a cabeça do Salvador e a seu encargo para serem por Ele expiados todos os pecados do gênero humano; tanto os presentes, como os passados e futuros, culpas inumeráveis de que a divina vítima é expiatória.

E enquanto Ele sucumbe apreciai quanto pesais no formidável número de pecados, que o oneram.

Proferiram-se as miraculosas palavras. Eleva-se a hóstia, Jesus é suspenso na cruz entre o céu, que se cobre com um véu fúnebre e a terra que estremece. Ficareis sem comoção? Que haveríeis feito e experimentado se tivésseis estado ao lado de Maria sobre o Calvário? Que vos teria dita a vossa fé à vista deste sacrifício sangrento, diga-o ele em presença desta mística imolação. Recolhei as derradeiras palavras do vosso Deus moribundo; quando ora pelos seus inimigos, roga por vós. Rogai-lhe para dar-vos Maria por mãe, para prometer-nos o paraíso, como prometeu a esse pecador, que a sua graça converteu na hora extrema.

No fim da missa, acompanhai a alma de Jesus aos limbos; ela vai consolar os justos, anunciar-lhes que vão sair da sua prisão para entrar na morada da glória com o seu libertador. Consolai os fiéis do purgatório, aliviai as suas penas, abri-lhes o céu aplicando-se os frutos da missa que acabais de ouvir e as obras satisfatórias, que fizerdes durante o dia.

Finalmente pela comunhão, ao menos espiritual, honrai a sepultura de Jesus Cristo. O coração puro é um túmulo, onde Ele se compraz. A humildade, a paciência, e, sobretudo, a caridade, eis os aromas em que Ele deseja que se embalsame o seu divino corpo. Mas como Ele não está sepultado senão para ressuscitar a uma vida gloriosa, orai-lhe para comunicar à vossa alma uma virtude de ressurreição, que se manifesta por uma vida nova e celestial.

TRECHO DO LIVRO:

A PAZ DA ALMA - FRUTO DA DEVOÇÃO À EUCARISTIA E DO ABANDONO À PROVIDÊNCIA.
PADRE PIERRE CHAIGNON
ANO:1882.
VERSÕES: KINDLE IMPRESSO

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